Rio Araguaia em São Félix do Araguaia (Foto: Sandra Carvalho) |
O rio Araguaia está em alerta devido ao processo de desertificação que atinge suas nascentes. Pesquisa realizada pela geógrafa Rosane Amaral Alves da Silva, da Universidade Federal de Goiás (UFG), indica o avanço dos areais nas nascentes da região Sul da Alta Bacia do Araguaia, entre Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso, a partir da década de 80, quando se intensifica o uso do solo para pastoreiro e plantações de soja.
Até 2006, as areias tinham tomado o correspondente a 613 hectares, concentrados entre duas fazendas. Ao total, a região é formada por aproximadamente 1.500 quilômetros quadrados, onde se situam as nascentes do Rio Araguaia. Estudos do professor Binômino da Costa Lima, 78, também apontam para o acelerado processo de desertificação às margens do rio, principalmente, nas regiões de Douradinho, São Domingos, Serranópolis, Jataí e Alto do Araguaia. Ele chama a atenção das autoridades para a urgente necessidade de se estabelecer um plano pró-Araguaia. “Falta compromisso de todas as partes com o Araguaia, passou da hora de mudar o sistema político. Vai chegar um momento em que nada mais poderá ser feito.”
Segundo Binômino, essas áreas estão sobre a Formação do Botucatu – um grande deserto que foi sedimentado, há cerca de 129 milhões de anos, o atual aqüífero Guarani. O reaparecimento das áreas desertificadas é um reflexo da degradação da região do Araguaia, inclusive das erosões, provocadas, em sua maioria, pela ação do homem. Nesta região, ele detectou o aparecimento de uma planta típica das regiões de deserto, a espécie Mercurinho é parente da Coca.
De acordo com ele, o aparecimento de uma planta numa área já em adiantado estado de areação pode impedir que o vento carregue a areia aumentando a condição de desertificação. Atualmente, a região concentra apenas 5% da vegetação do Cerrado. Em imagens feitas no mês de junho, Binômino constatou que há locais em que os produtores rurais estão arando quase dentro do rio. “O Cerrado é uma vegetação especializada, capaz de resistir ao fogo e seca, mas a partir do momento em que é destruído, não se regenera”.
O uso do solo para pasto e plantações, principalmente de soja, são os principais responsáveis pela degradação do solo da Alta Bacia do Rio Araguaia, segundo a geógrafa Rosane Amaral Alves da Silva, mestre em desertificação e erosão dos solos do Laboratório de Geologia e Geografia Física (Labogef). Ela explica que, como a região já é composta por um tipo de solo arenoso, a utilização inadequada destas áreas tem acumulado uma desertificação induzida.
Rio Araguaia em Luciara-MT (Foto: Sandra Carvalho) |
A pesquisa avaliou a região entre as décadas de 60 e 2000. As imagens feitas por satélites mostram que, entre os anos de 1965 e 1980, não era visível a presença de areais. Os bancos de areias começam a parecer a partir dos anos 80, quando se intensifica as produções de soja e criação de gado. No ano de 2006, as análises detectaram 613 hectares atingidos pela desertificação. Segundo ela, as areias são soltas e estéreis, o que dificulta a manutenção da flora local. “A área possui uma intensa atividade agropecuária, nos últimos 30 anos, relacionados a incentivos para o desenvolvimento da região. Este processo resultou em desmatamento intensivo, que promoveu erosão hídrica, assoreamento e arenização”.
Segundo ela, o estudo indicou que cerca de 60% do total da área se encontra com alta suscetibilidade à arenização. “Caso não seja feito nada para reverter o processo, a tendência é de que mais de 90% desta região seja atingida pela desertificação. Mas como esse processo é recente e os blocos de areias têm em torno de 10 centímetros de profundidade há grandes chances de reversão,” aponta a pesquisadora que indica ações como criação de áreas de preservação permanente e áreas conservacionistas.
O grupo de pesquisa é coordenado pela geógrafa Selma Simões de Castro, também do Labogef. Em 2006, ela apresentou um estudo em que mostrava que a desertificação tinha atingido 7% da área do Cerrado. As regiões mais afetadas são Sudoeste goiano, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. (Lourdes Souza, Tribuna do Planalto)
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