Por Dra. Luciana Rocha

A depressão é uma doença psiquiátrica que atinge grande parte da população mundial, mais precisamente, 300 milhões, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Esse transtorno causa sérias consequências na qualidade de vida dos afetados, como o isolamento ou retração social, sofrimento para si próprio e familiares e até mesmo a morte.

Estudos apontam que cerca de um terço das pessoas diagnosticadas com depressão vão apresentar quadro de constipação intestinal, o que consequentemente piora ainda mais o sofrimento.

Pacientes com depressão têm uma relação muito complexa com o funcionamento intestinal, pois frequentemente apresentam distúrbios alimentares, têm dificuldade de se manter ativos fisicamente e fazem uso de medicações que atrapalham significativamente os movimentos do intestino.

Além disso, mais recentemente, o conceito de disbiose foi acrescentado a essa equação.

Disbiose intestinal e saúde mental

Disbiose é o nome dado ao desequilíbrio da microbiota intestinal. Esta, por sua vez, é o conjunto de todos os microorganismos e vírus que residem em um hospedeiro.

Em outras palavras, no caso do intestino, a microbiota tem papel fundamental em questões como:

– Absorção de nutrientes;

– Barreira protetora contra a penetração a agentes nocivos;

– Eliminação de resíduos;

Estabilidade local do ambiente.

Quando o paciente tem um quadro de disbiose, estamos diante de um crescimento desordenado de algumas bactérias que são prejudiciais à homeostase, isto é, o equilíbrio na região do intestino.

Assim, há menor absorção de nutrientes, maior fermentação e consequente maior produção de gases, além de desconforto e dor abdominal.

Como a microbiota tem a ver com a depressão?

A pergunta que não quer calar é: mas como será que o desequilíbrio da microbiota intestinal interfere no curso da depressão de um paciente?

Segundo o estudo “A Gut Feeling: The Importance of the Intestinal Microbiota in Psychiatric”, podemos ver interações multifatoriais que ocorrem entre a microbiota intestinal e o sistema nervoso. Isto é, segundo os estudiosos, o sistema nervoso central e a microbiota estão conectados.

Além disso, é possível observar também como o desequilíbrio das bactérias do intestino afetam o imunológico e o sistema neuronal.

Intestino e sistema nervoso

O intestino é sede de uma parte importante de um sistema chamado de nervo-autônomo, que controla a digestão, por exemplo. Ou seja, tudo que é crucial para regular a movimentação do bolo fecal, a produção de enzimas e de neurotransmissores, entre eles a serotonina – fundamental para a sensação de bem-estar, junto com a dopamina.

Assim, nos pacientes com desordens psiquiátricas, o desequilíbrio e o metabolismo influenciam na falta de nutrientes e oxigênio para os microrganismos residentes na mucosa intestinal.

Com base em tudo que abordamos nesse texto, cabe ao médico avaliar o paciente como um todo, lembrando que ele não tem apenas um problema e, sim, representa o resultado de sua interação socioambiental, inclusive alimentação e comportamento.

Dra. Luciana Rocha é gastroenterologista e integra as equipes do IGPA e Clínica Vida Diagnóstico e Saúde