Uma das poucas imagens do jornal O Escaldado, feita por Magno Jorge
na Biblioteca Estadual, no Palácio da Instrução.

Por: Nelson Severino, Mário Hashimoto e Sandra Carvalho
Fotos: Mary Juruna e Arquivo Pessoal

O fato mais marcante na vida da Cooperativa dos Jornalistas e Técnicos Gráficos (Coorepórter), fundada em Cuiabá no início dos anos 80 pelo jornalista Calixto Alencar, ocorreu após a publicação de uma reportagem polêmica no jornal O Escaldado, cuja marca era o jornalismo investigativo e combativo. A sede da cooperativa foi crivada de balas e em seguida o jornal, apenas três meses após sua primeira edição, parou de circular. Não por conta das ameaças, mas por falta de dinheiro para manter a tiragem do tabloide.

Relata Nelson Severino, também fundador da cooperativa, que em sua última edição o Escaldado publicou uma matéria feita por Calixto – conhecido como ‘Zelito’ – denunciando um cambalacho sobre uma grande área de terras em Chapada dos Guimarães, envolvendo um promotor da Comarca e um suposto empresário sulista  chamado von Katlin, que chegou a Cuiabá comprando generosos espaços nas colunas  de jornais para se projetar socialmente e pouco tempo depois estava nas páginas policiais.

Calixto Alencar, fundador da Coorepórter

Dias antes, continua Severino, o empresário convidou um dos editores do jornal para um bate papo no extinto Fornão, o restaurante mais badalado da época, para dizer que a matéria não podia ser publicada. Ao ser cientificado que a reportagem já estava até editada, ele pôs ostensivamente uma bela pistola 7.65 sobre a mesa e disse ao editor: “Eu não mando matar, eu mesmo mato…”

– Pois então comece a matar, porque a matéria vai sair redondinha do jeito  está…” – retrucou o editor, ao mesmo tempo em que se levantava para ir embora.

A edição do jornal com a matéria do cambalacho foi impressa e distribuída no sábado á noite. A primeira mesa em que valente Tom, que distribuía o jornal, entregou o Escaldado foi na que estava von Katlin e um numeroso grupo de amigos, no Choppão super lotado….

Poucas horas depois, capangas de von Katlin deram uma meia dúzia de tiros na porta do casarão onde funcionava a Coorepórter. Até inquérito policial foi aberto, mas, como sempre, deu em nada. O Escaldado deixou de circular não por medo dos pistoleiros de von Katlin ou da Revolução, mas por falta mesmo de dinheiro dos duros jornalistas que faziam o jornal.  

Magno Jorge e Nelson Severino, aqui ao lado
de Beto Velosa, eram ativistas da Coorepórter 

(Foto Mary Juruna)

A  Coorepórter – A Cooperativa dos Jornalistas e Técnicos Gráficos foi fundada no início da década de 80 pelo saudoso jornalista José Calixto Alencar, o Zelito,  e outro profissionais da área como o chargista Salvio Jacques e Lúcio Tadeu (também falecidos), o diagramador Mário Hashimoto, o repórter fotográfico Magno Jorge e também os jornalistas Nelson Severino, Janete Carvalho, Adeildo Lucena e Marcos Vila.

A sede da cooperativa, localizada num casarão da Rua 13 de Junho, no meio do quarteirão entre a Avenida Dom Bosco e a Praça Ipiranga, era utilizada para a realização de serviços jornalísticos e também abrigava seus diretores, artistas, ecologistas, indígenas e jornalistas que por aqui chegavam sem rumo.

“Iniciamos ali um projeto chamado Jornal Escaldado, em oposição ao governo militar e ao partido político Arena”, conta Mário Hashimoto. E nas noites gaulesas, relembra o idealizador da Revista Sina, havia rodas de viola embaixo de uma mangueira e nas escadarias do velho casarão, demolido há poucos anos para dar espaço a estabelecimentos comerciais.

Pantan – E para relembrar a Coorepórter, acontece neste dia 10 de dezembro a noite PANTAN. “Vamos cantarolar as músicas que os violeiros tocavam, homenageando os jornalistas José Calixto de Alencar, Lúcio César Tadeu e Sálvio Jacques que partiram para outro plano e que fizeram parte desta empreitada. Música, poesia e tudo que tivermos direito”, avisa Hashimoto, que está mobilizando fundadores, amigos, profissionais de áreas afins e todos que tiverem interesse em conhecer um pouco dos tempos áureos do jornalismo mato-grossense para comparecer a partir das 19 horas, na Praça da Mandioca.

O nome do evento – PANTAN – é uma menção à música Pantan no Quintal, de autoria do poeta Antônio Carlos e do repórter fotográfico Magno Jorge. Sua letra faz reverências ao Pantanal mato-grossense e ao pássaro sabiá laranjeira.

Acompanhe os bastidores do evento pelo facebook https://www.facebook.com/pan.tan.397?fref=ts .

Informações: Mário Hashimoto (9804-5556) e Sandra Carvalho (3023-5151/8115-9312)

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luci mary dias rosal

Isso tudo me faz lembrar O Pasquim e claro o Henfil e seus desenhos e cartoons, saudades desse tempo bom….

luci mary dias rosal

Nossa…isso tudo me fez lembrar O Pasquim, na época da ditadura era bem dificil fazer jornalismo investigativo, hoje em dia é tudo maravilhoso, pena que alguns se submetem a politicos, empressários ou quem pagar mais.