Beco do Candeeiro, centro de Cuiabá
(Foto: Sandra Carvalho)

O historiador Clementino Nogueira de Souza, professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), buscou um viés curioso para, através do qual, estudar 60 anos da vida na capital mato-grossense do século passado. Ele investiga, no doutorado, as prostitutas.
“Quero mostrar como essas mulheres contribuem com a memória de Cuiabá”, explica o professor, que já vem estudando, desde o mestrado, questões de gênero, subjetividade e corpo, pela perspectiva histórica. “Como pensar a história no feminino?” – essa é a reflexão central do professor.
O título da pesquisa de doutorado dele, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é “Entre o Bar Colorido e o Escritório Bar: subjetividades das prostitutas da cidade de Cuiabá de 1946 a 2003”Os dois bares localizam-se no Centro de Cuiabá.
O Bar Colorido hoje é apenas uma casa abandonada na avenida da Prainha, mas ali era um movimentado ponto de prostituição nas décadas de 40 e 50. E o Escritório Bar também não existe mais. Numa operação municipal, foi fechado em operações policiais em 2003 e 2004.
“A primeira vez que ficou definido em portaria onde seria a zona de baixo meretrício em Cuiabá foi em 1931. Os locais seriam as Ruas São Francisco e Rua do Carmo, no bairro Lixeira, e ruas do Centro, entre outras”, destaca o pesquisador.
Para seguir os passos de Sebastianas, Auxiliadoras, Conceições e tantas outras Madalenas, que ganharam a vida na prostituição em tempos idos, o professor Clementino utiliza o Arquivo Público do Estado de Mato Grosso e processos crimes.
Foi assim que ele encontrou o processo, segundo ele muito bem instruído, que trata da morte de Sebastiana, uma prostituta assassinada em frente ao Bar Colorido, aos 37 anos. “O motivo do crime foi ciúmes. O homicida alegou que ela havia roubado o namorado dele”.
Beco da Lama, no bairro do Porto, ainda mantém
prostíbulos (Foto: Sandra Carvalho)
Embora o doutorado ainda esteja inconcluso, o professor já pode constatar alguns movimentos que dizem respeito à vida em Cuiabá no século passado.
“Primeiro, eu investiguei a expressão ‘eu ouvi dizer’, e descobri que essa era uma prática eminentemente masculinan, ou seja, é uma calúnia dizer que só a mulher pratica o diz que me diz. Os homens de Cuiabá são historicamente fofoqueiros”, brinca ele.
Outro movimento identificado foi o ir e vir dessas prostitutas pelos garimpos. “Esse tour era uma prática comum”.
No entanto, o agito da prostituição era mesmo Cuiabá, o centro mais movimentado nesse setor. Elas iam aos garimpos e voltavam para cá. Mas, conforme o professor, a rota do amor mudou na década de 60 e 70, para Cáceres, com o “boom” da pecuária. Já nas décadas de 70 e 80, a rota do prazer mudou de novo para Alta Floresta e região. E mais recentemente o movimento das prostitutas é para fora do país, essencialmente Portugal e Espanha.
Estudando o assunto, o professor está, nessa fase da pesquisa, visitando e fotografando também outros pontos de prostituição históricos de Cuiabá, como o Bar do Brotinho, no bairro do Porto, e o Bar Lago das Rosas, no Beco do Candeeiro, Centro.
Segundo o professor, não se trata de fazer apologia à prostituição, nem tampouco atacar essa prática milenar. “Mas simplesmente não ignorar as informações que esse viés histórico pode nos dar, eminentemente feminino”. (Keka Werneck, da Assessoria de Imprensa do Centro Burnier Fé e Justiça)
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Anônimo

EU SOU NETO DE UMA DONA DE CABARÉ,MEU NOME E WILTON,SOU NASCIDO NO CABARE,E NAO TENHO VERGONHA DE DIZER QUE TRABALHO NO CABARE….PORQUE TODAS AS MULHERES QUE ESTA NESTA VIDA E POR QUE PRECISA..TUDO BEM