O Bar Sapucaí, localizado no Recreio (RJ), recebe neste domingo (28) a cantora e compositora Dora Rosa para uma live com muito partido alto e que contará com a participação especial do Mestre Dudu, da Mocidade Independente de Padre Miguel, e do Grupo Afro Ribeirinho, de carimbó. A live será transmitida a partir das 19 horas pelo canal https://www.youtube.com/c/BarSapucaiOficial .
Cuiabana e com ancestralidade indígena, Dora Rosa é uma das revelações da nova geração. Sua voz forte dá o tom às rodas de samba. “Eu sou fã da Dora. Ela tem uma voz forte, canta partido alto que é um estilo que eu sempre gostei, tem um carisma e representa a mistura cultural brasileira, que não é só do carioca do morro cantando samba”, define Márcio Demberg de Oliveira, idealizador e proprietário do Bar Sapucaí.
Um dos fatores que também deixou Márcio bastante empolgado foi Dora Rosa ter sugerido convidar um grupo de carimbó para a live, o Afro Ribeirinho. “O carimbó, com o som marcante do batuque, também é uma importante manifestação cultural”, observa o empresário, destacando ainda a participação do Mestre Dudu com sambas enredos, uma forte característica do boteco.
Dora Rosa deixou Cuiabá (MT) há cerca de cinco anos para seguir em busca de seus sonhos no Rio de Janeiro. Em 2017, lançou “Vento Bom” produzido pelo maestro Wanderson Martins e seu filho, o multi-instrumentista, cantor e compositor João Martins. Vento Bom traz em seu repertório canções que vão do romântico, ao partido alto e o afoxé.
A artista já marca presença em consagradas rodas de samba do Rio de Janeiro como Cacique de Ramos, Renascença, Tia Doca, Terreiro de Crioulo, Samba Social Clube, Beco do Rato, Samba de Boteco, Samba na Rua, Samba no Quintal, Casa dos Partideiros, Sarau do Escritório, Beco das Garrafas, Teatro Baden Powell, Feijoada Samba Show, do Adelzon Alves, na Ilha do Governador, Pagodinho da Lú-Rocinha e Na Porta de Casa, de Juninho Thybau. E hoje, 28 de junho, volta ao Bar Sapucaí para sua segunda live a convite de Márcio.
Inaugurado há pouco mais de oito meses, dos quais três meses e meio fechado por conta da pandemia da Covid-19, o Bar Sapucaí se transformou em pouquíssimo tempo em uma referência para os amantes do chorinho, do samba de raiz e do samba enredo.
“Puxei para Sapucaí porque tenho um histórico de ter vivido muito o carnaval. Era engraçado, porque aos 10 anos eu já acompanhava os desfiles do Rio pela televisão, muito na contramão da garotada da época. Eu ficava encantado. Tem uma música da Maria Rita que é muito pertinente: Eu não nasci no samba, mas o samba nasceu em mim. Então, eu não sou cria do samba, mas o samba sempre esteve presente na minha vida. Do lado da minha mãe carioca, muito samba. Do lado do meu pai paraibano, muito forró. Eu fui criado nesse meio”.
Márcio tem 51 anos, é formado em Marketing e trabalha há 23 anos em uma multinacional. Pensando na aposentadoria, decidiu que iria criar algo que gosta muito e perto da sua casa para esperar a chegada desse novo ciclo da vida. Criou, então, o Bar Sapucaí, que fica distante dos principais redutos do samba do Rio de Janeiro, contemplando os amantes do chorinho, samba de raiz e samba enredo que moram no Recreio e região.
Segundo Márcio, o grande diferencial do Bar Sapucaí é a arte. “Eu sou um apaixonado por arte, principalmente artesanato brasileiro, tudo que se refere ao nosso folclore. Então, procurei buscar peças de artistas locais que pudessem mostrar essa cultura do Carnaval. Quando você começa a olhar cada canto do bar, você vê que tem um artista por trás de cada peça, e isso é o que encanta os clientes. Eles vão chegando, fotografando e isso dá um prazer indescritível”.
- O Sapucaí não é um bar grande, mas resgata o boteco carioca, um ambiente gostoso onde as pessoas querem ficar, e que também mistura peças de decoração. Faz, por exemplo, uma referência ao frevo de Pernambuco, e também exibe dois estandartes oficiais, criados por artistas de Parintins, do boi Caprichoso e do Garantido.
“Eu tenho peças que remetem ao Carnaval e a Sapucaí é o Cristo Redentor do Carnaval, digamos assim. É um ícone, e eu usei esse ícone pela proximidade e conhecimento do tema. O Bar Sapucaí é uma verdadeira homenagem à nossa cultura”, define.
Pandemia
Desde que inaugurado, o bar funcionou por cinco meses e nesse curto tempo ficou muito conhecido sem que houvesse qualquer tipo de ação de marketing. “Ele conseguiu se divulgar no boca a boca. As pessoas iam, se apaixonavam, e tiravam fotos que viralizavam nas redes sociais”, conta o empresário, creditando esse sucesso ao perfil com grande apelo cultural e voltado ao chorinho, partido alto, samba de raiz e samba enredo. “Isso atraiu um público um pouco mais maduro, acima dos 30. É um bar para quem aprecia a música e a cultura brasileira”.
Aí logo após o Carnaval veio a pandemia, quando o bar estava literalmente bombando, no auge, e Márcio se viu obrigado a fechar as portas. “Não foi fácil. Temos compromissos financeiros, e os funcionários são vidas e a gente tentou afetar o mínimo a vida dessas pessoas”.
Sobre as lives, Márcio confessa que de início teve certa resistência, porque houve um boom e já estava ficando meio repetitivo. Até que o grupo Só Damas, que tocava no Bar Sapucaí antes da pandemia, pediu pra fazer uma live no boteco, sugerindo a participação da própria Dora Rosa, e da Dandara, que é da Paraíba. “Fizemos a experiência e foi um sucesso. As lives mantém o espírito do bar vivo”.
Márcio conta que Dora Rosa foi indicação de uma roda de samba. “É esse tipo de artista que a gente quer no Bar Sapucai e tantos outros artistas que são o diferencial. Gosto de colocar o artista novo em evidência, aqueles que estão batalhando no mercado de trabalho, e isso é muito bacana, desde que tenha o perfil e estilo do bar Sapucaí, como é caso da Dora Rosa, com seu partido alto e sua voz marcante”.
Novo espaço
Durante o tempo que permaneceu fechado, o boteco passou por uma reforma. Ele agora ganhou um segundo andar, já batizado de Lage do Sapucaí. É um ambiente que comporta cerca de 20 pessoas. “Ele tem uma pegada da favela carioca, painéis nas paredes, lambe-lambe, que são cartazes produzidos por um super fotógrafo que faz essas interferências nas ruas da cidade, compondo todo esse cenário da favela, além de outras peças como quadros do Geleia da Rocinha, que é um artista popular que pinta no estilo da arte naif, com essa pegada de carnaval.
“A live da Dora Rosa encerra e coroa um ciclo. Tudo tem seu lado bom e ruim e nós estamos olhando pelo lado bom da pandemia, que nos fez valorizar mais as coisas do cotidiano. Só gratidão”, comenta Márcio, anunciando a reabertura do bar na próxima quinta-feira (02.07). “Mais de mil bares fecharam no Rio de Janeiro e muitos não tiveram condições de ter sustentado a situação. Eu me sinto abençoado. Graças a Deus a gente conseguiu superar essa fase. É de encher os olhos de lágrimas e ficar feliz por isso. O sucesso será ainda maior”, prevê o empresário.