“Sou totalmente contrário à privatização da saúde pública. Estive dos dois lados, e sei como isso funciona na prática: não funciona. A não ser que se usem novos parâmetros de atendimento médico, com os quais não concordo”. É desta maneira que o médico, fundador e ex-reitor da Universidade Federal de Mato Grosso, Gabriel Novis Neves, vê as Organizações Sociais. Além disso, lamenta que Cuiabá não tenha um grande hospital público estadual. E diz: “Se pelo menos o governo inspirasse confiabilidade, vamos lá. Mas na prática, com a documentação jurídica em mãos, ele é useiro e vezeiro na prática do calote”.
Este foi o motivo principal do fechamento em massa dos hospitais do interior e da capital na gestão passada. Para Gabriel Novis, o Estado adota uma “medida prática e de curto prazo” ao apelar aos ricos empresários para que invistam no setor hospitalar. “Estaria resolvido o problema em nosso rico e próspero Estado. O governo daria exclusividade aos pacientes do SUS. Seria o tiro de misericórdia em um problema que tanto nos humilha”.
O médico lembra que todos sabem o governo do Estado não tem nenhum hospital na Grande Cuiabá – que possui um milhão de habitantes – e que o perfil do Hospital Universitário (Federal) é mais voltado ao ensino e à pesquisa do que para a assistência. “Segundo informações da mídia, o governo Estadual resolveu ajudar alguns hospitais da rede conveniada com o SUS com algumas migalhas, em troca do aumento do número de leitos. As famosas parcerias feitas pelo governo passado só trouxe lucros às empresas fabricantes de placas”, observa.
Neste último quesito, Gabriel Novis Neves lembra que inclusive existe uma UTI aqui na ex-Cidade Verde que foi inaugurada quinze vezes, com placas nas paredes e que no momento está fechada para reformas. “O mesmo acontece com o hospital municipal do outro lado do rio Cuiabá. Passar para a iniciativa privada um problema que, constitucionalmente, é obrigação do Estado, é crime”.
Deixando vir a tona toda sua indignação, o médico ressalta que ninguém acredita em promessas de governo e que até as crianças morrem de rir quando ouvem pela televisão eles falando em reformas e marcando datas de inaugurações. “Todos se lembram das inúmeras vezes em que o Hospital da Criança foi inaugurado”.
E para completar, Gabriel Novis observa: “O pior é que alguns hospitais privados toparão o negócio, que irá refletir na qualidade do atendimento e nas condições de trabalho oferecidas. Os dois Prontos-Socorros públicos recebem qualquer tipo de esmola”.
http://feeds.feedburner.com/blogdasandracarvalho