O cacique kayapó Raoni Txucurramãe, de Mato Grosso, afirmou, durante o 2º Fórum Mundial de Sustentabilidade, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva traiu o povo indígena por permitir o projeto de construção da usina de Belo Monte, na região da Volta Grande do Rio Xingu, no Pará. O projeto polêmico é um dos maiores empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas as lideranças indígenas acusam o governo de falta de transparência e preveem impactos muitos maiores que os indicados pelo governo.

“O governo brasileiro não quer nos ouvir. Só aqueles que ganharão dinheiro com o projeto parecem ter acesso ao ouvido do governo. Até o presidente Lula traiu o povo deste País. Por isso estou cheio de raiva contra Lula e as lideranças que defendem estes projetos. Sentimos que os governos de Lula e também de Dilma têm uma grande falta de compaixão pelo povo. Não respeitam o sofrimento que eles sabem que vão causar”, afirmou o líder indígena em uma mesa composta também pelo cineasta canadense James Cameron.
De acordo com Raoni, a represas planejadas no rio Xingu vão afetar o ciclo natural das águas, a reprodução dos peixes, e por consequência toda a população que depende da natureza para viver na região. Para ele, o governo brasileiro não é transparente nos objetivos com Belo Monte. “Nossos antepassados, os primeiros que chegaram na área do Xingu, logo descobriram estes ciclos e a importância deles. Tudo isso vai ser destruído por estes projetos. Nós informamos o governo dos efeitos”, afirmou.
“Nós plantamos vegetais, mandioca para as crianças comerem na beira do rio. Se as barragens forem construídas, vão inundar muita terra onde plantamos e ganhamos nossas vidas para as famílias”, completou. Segundo a líder indígena Sheyla Juruna, a bacia inteira do rio Xingu será afetada “na região moram 25 povos indígenas diferentes. Para o governo brasileiro, a construção da usina deve gerar 18 mil empregos diretos e 23 mil indiretos e deve ajudar a suprir a demanda por energia nos próximos anos.
Em fevereiro do ano passado, o Ibama concedeu a licença prévia para Belo Monte, exigindo 40 condicionantes socioeconômicas e ambientais ao projeto, que será desenvolvido por um consórcio liderado pela construtora Queiroz Galvão e pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) vencedor de um leilão realizado em abril de 2010. No entanto, para Sheyla, os índigenas não foram ouvidos ao longo do processo e o novo governo, de Dilma Rousseff, levará o projeto à frente do mesmo modo.
“Se você destrói a natureza, destrói a população que dela sobrevive. Sentimos necessidade de pedir apoio para as pessoas contra todos estes empreendimentos. Não tem benefício nenhum para nós, só para pequenos grupos capitalistas. A presidente Dilma levará isso adiante sem nos ouvir. Já mostramos outras alternativas para ela. Por que o governo não investe em outros tipos de geração de energia?”, questionou
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