Por: Ana Claudia Pereira Terças e Indiana Borralho
A pandemia da doença do novo coronavírus (COVID-19) que pode causar síndrome respiratória aguda grave (SARS), tem sido amplamente discutida em todas as plataformas tecnológicas e mídias, estando presente espontaneamente no nosso dia a dia. O impacto dessa doença gerou mudanças econômicas, políticas, ambientais, sociais e culturais, alterando a rotina mundial abruptamente.
Frente a COVID-19, o mundo científico preocupou-se incialmente com o atendimento as consequências agudas da doença, como foco na saúde física, visando conhecer ciclo biológico do vírus, sinais e sintomas, modos de transmissão, tratamento, profilaxia, ou seja, tudo referente ao novo vírus. Porém, é necessário lembrar que a saúde mental está entrelaçada com o combate a qualquer doença e mais gravemente em emergências de saúde pública como a vivenciada em 2020, pois o funcionamento do nosso sistema imunológico é afetado facilmente quando há um problema psicomental.
A relação do sistema imunológico e o sistema nervoso, se dá através do cérebro e das citocinas de inflamação, que juntas atuam na resposta neuro-imune. Estudos enfatizam que além do sistema respiratório ser prejudicado pelo vírus, também é provável que haja um impacto na saúde mental pelo comprometimento do sistema nervoso central. Portanto, indivíduos assintomáticos também podem a vir a apresentar problemas pscioemocionais devido ao momento de incertezas que estamos vivenciando, ademais os sintomáticos também podem desenvolver comprometimento relacionado a saúde mental, devido a infecção viral.
Os estressores psicossociais afetam na eficácia do sistema imunitário, associando a capacidade do indivíduo em alterar o processo de saúde-doença, isto é a dinâmica do indivíduo inserido nas alterações que a pandemia trouxe afeta diretamente ou indiretamente sua saúde mental. Exames laboratoriais ou complementares apoio na identificação clínica das principais doenças mentais como a depressão, ansiedade, psicose de outras doenças. No entanto o diagnóstico clínico é eficaz e mais utilizado, principalmente pelo enfrentamento de situações estressoras como o luto, medo do adoecimento, medo de perder entes queridos, instabilidade financeira, dentro outros.
Diante da ameaça de nossas vidas, é importante falarmos sobre o que possivelmente enfrentaremos no futuro, seja sequelas físicas e/ou mentais na sociedade, para que assim tracemos estratégias e ferramentas que vão além do distanciamento social, uso de máscaras, higienização das mãos e adaptação socioeconômicas, afim de minimizar os efeitos da pandemia sobre os sentimentos, relações socioafetivas, emoções e interação social.
Faz-se então necessário que sejam adotadas intervenções o mais precoce possível, ações essas que utilizem da multiplicidade de saberes que a equipe multidisciplinar em saúde pode ofertar, desde a prevenção, assistência e reabilitação dos acometimentos mentais de toda a sociedade. Para tanto, a assistência integral a saúde mental de todos os indivíduos da comunidade que estejam em qualquer fase do ciclo de vida deve ser planejada e adequada as realidades individuais, para que assim possamos minimizar os impactos negativos da pós-pandemia viral.
Caminhos, acessos, meios precisam ser utilizados para nos aproximar, pois o ser humano foi criado para viver em sociedade. Existem diversas ferramentas digitais que “diminuem” a distância social, tornando o uso indispensável nesse momento. Na internet encontramos uma variedade de opções para distrair como: assistir um vídeo de humor, ouvir uma boa música, receitas, aulas, filmes, séries, novelas, etc. E para nos aproximar podemos realizar chamadas de vídeos, jogar online com pessoas conhecidas e desconhecidas, e até mesmo fazer terapia online, podendo ser a psicoterapia (a mais comum), musicoterapia e cromoterapia. Outra ferramenta são os aplicativos de celular que possuem também muitas opções, além dessas já citadas. Portanto, é perceptível que ferramentas digitais não nos faltam, apenas precisamos utiliza-las para intervenção da saúde mental do indivíduo em questão. Precisamos, aprender a viver o mundo digital para nos mantermos fortes, sociáveis e capazes de galgar novos desafios, novos horizontes, um futuro para a humanidade.
Por fim, a magnitude da pandemia nos faz estar em estado de alerta, estressados e vulneráveis, menos impotente, por podemos juntos ressignificar a vida, rever planos para o futuro e fortalecer o nosso lado socioafetivo.
Referências
Brasil. Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia Covid-19: recomendações gerais / Mental health and psychosocial care in the Covid-19 pandemic: general recommendations. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz.s.l; s.n; [2020].
Figueiredo, R.I.; et al. Psycho-Neuroendocrine-Immune Interactions in COVID-19: Potential Impacts on Mental Health. Frontiers in Immunology ISSN: 1664-3224, vol 11, 2020, p. 1170. DOI: 10.3389/fimmu.2020.01170 Disponível em < https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fimmu.2020.01170/full> Acesso em 26 de agosto de 2020.
WHO. Mental health and psychosocial considerations during COVID-19, 2020.Disponível em < https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/mental-health-considerations.pdf?sfvrsn=6d3578af_2> Acesso em 26 de agosto de 2020.
Autoras:
Ana Claudia Pereira Terças-Trettel
Enfermeira, Doutora em Medicina Tropical (FIOCRUZ-RJ)
Docente Adjunta da Universidade do Estado de Mato Grosso
Docente programa de pós graduação em saúde coletiva da UFMT
Indiana Campos Borralho
Biomédica, Mestre em Ciências Aplicadas à Atenção Hospitalar (UFMT/HUJM)